Cansaço que não passa dormindo

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PSICANÁLISECANSAÇO MENTALBURNOUTFREUD

por Pannera Rodrigues

5/9/20252 min read

© Pannera Rodrigues
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Tem gente que dorme e acorda cansada, que tira férias e continua exausta, que desacelera, mas segue sentindo um peso que não sabe explicar. É um tipo de cansaço que o travesseiro não resolve. Não vem do corpo, vem da alma, das exigências silenciosas, dos “tem que” que vão empilhando por dentro.

Sabe aquele esforço de parecer forte o tempo todo? De mostrar que tá tudo bem, mesmo quando não tá? Pois é… isso cobra. E cobra caro.

Tem cansaço que vem de fingir o tempo todo que está tudo bem. De sustentar versões de si mesmo pra agradar, pra funcionar, pra seguir. Dormir ajuda. Mas se escutar ajuda mais.

Esse tipo de exaustão não é sempre físico, mas também não é “frescura”. É real. E embora nem todo cansaço mental seja um caso clínico, vale a pena olhar com carinho quando o desgaste se torna constante, profundo, e começa a roubar até o prazer das pequenas coisas.

Às vezes, essa exaustão é só o sintoma de uma vida vivida no automático, sem espaço pra falhar, sentir, desejar.
Outras vezes, ela pode evoluir pra algo mais sério, como a Síndrome de Burnout. Mas olha só: burnout é uma possibilidade, não um destino. Nem todo mundo que tá cansado está em burnout mas todo burnout começa com um cansaço que foi ignorado.

Pessoas que vivem nessa corda bamba emocional geralmente se cobram demais, vivem coladas num ideal de perfeição inalcançável, e esquecem que são humanas. Quando isso vai longe demais, o corpo começa a gritar: dores, insônia, lapsos de atenção, crises de ansiedade... E em profissões com riscos envolvidos (máquinas, decisões críticas, ambientes perigosos), esse desgaste pode gerar acidentes sérios.

Freud, num texto de 1913 chamado “O tabu relativo aos governantes”, dá uma pista. Ele fala sobre como figuras de poder e aqui podemos incluir também os ideais que colocamos sobre nós mesmos são tratadas como intocáveis. E reconhecer que se está cansado, fragilizado, ou no limite… é quase um tabu. Como se fosse proibido admitir que não damos conta. Mas é exatamente aí que começa o cuidado: na permissão pra falhar, recuar, sentir e pedir ajuda.

Porque às vezes, o que a gente precisa não é de mais produtividade, nem de um planner novo. É de espaço, de descanso emocional, de desejo que não seja só cumprir função, e também de folga e férias haha

por Pannera Rodrigues, psicóloga e psicanalista