No fundo, domingo não é vazio
Crônica de domingo.
VAZIOCRÔNICAPSICANÁLISE


© Pannera Rodrigues
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Tem dias que a gente acorda e já sabe: é domingo.
Nem precisa olhar no calendário.
O corpo sente. O tempo muda de textura. Domingo às vezes é um saco, né?
Tem gente que odeia domingo. Diz que dá vazio. Angústia. Tédio.
Mas talvez o que doa no domingo seja justamente o encontro com o que sobra
quando o barulho do mundo silencia: a falta, a solidão, o vazio...
Alguns têm um domingo que é dia de
almoço em família, cochilo sem culpa.
Pra outros, é o dia em que a solidão bate mais forte,
em que o silêncio pesa,
e aquele sentimento angustiante aparece:
o de ter que se olhar pra dentro,
escutar as próprias dores,
os incômodos que a correria da semana escondeu...ou você evitou, né? empurrou pra debaixo do tapete.
Domingo é espelho.
E nem sempre a gente está pronto pra se olhar de frente.
Tem esse jeitinho esquisito de ser lento e pesado, mesmo quando tá tudo bem.
É como se o dia viesse com um fundinho de saudade, mesmo sem motivo.
Você acorda, passa um café… e lá no fundo já tem uma voz dizendo:
“Daqui a pouco é segunda.”
Então, lembra: o domingo é seu. Faz dele o que quiser.
Quer fazer um bolo? Só faz!
Eu mesma fiz um chocolate quente porque tá frio, e tô aqui, fazendo o que gosto:
meu skincare, hidratando o cabelo e escrevendo no meu site — meu ritualzinho de autocuidado.
Tudo isso, claro, em boa companhia: meus gatos, e um gatinho de 2 meses que agora exige mais da minha atenção.
Mais um companheiro para os meus domingos, às vezes bons, outras tediosos, às vezes reflexivos.
Quer assistir aquele filme besteirol, ou um filme conforto que já viu mil vezes? Vai lá! Eu mesma escolhi assistir na nova temporada de Black Mirror (o primeiro episódio já foi uma bomba).
Tá frio? Esquenta um chá, um chocolate, um corpo, o que ou quem tiver por perto.
Quer deitar e ser absolutamente inútil pra sociedade? Excelente.
Quer sair, se encher de sol ou de gente? Vai. Vai mesmo.
Domingo não tem que ser produtivo, nem fotogênico, nem pleno.
Domingo tem que ser respirável. Precisamos abraçar nossas faltas de algum jeito,
afinal, no fundo, domingo não é vazio.
Se acolha. Se abrace. Se largue um pouco.
Porque a vida já exige demais da gente de segunda a sábado.
Que o domingo, pelo menos, seja um lugar de descanso.
Ou de fuga.
Ou de reencontro.
Ou tudo isso junto.
Por Pannera Rodrigues